quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Uma história de Guerreiro Ramos

E ainda existe gente que crê que no Brasil não existe preconceito racial. E ainda existem outros que acreditam na eficácia e qualidade da “nossa” polícia política.

Recebemos a seguinte história por e-mail, do amigo Maurício David:


GUERREIRO RAMOS

Alberto Guerreiro Ramos, grande sociólogo brasileiro, foi meu professor na University of Southern Califórnia e, certa vez, contou a nós, seus alunos brasileiros, uma história a respeito da cassação de seus direitos políticos em 1964, com um misto de perplexidade divertida e amargura resignada.
Guerreiro era uma pessoa teatral, um causeur por natureza. Um sábado, estava na Livraria José Olympio, ponto de encontro de intelectuais no Rio de Janeiro, quando entra o Marechal Castello Branco, presidente da República. O presidente havia sido aluno de Guerreiro Ramos em um curso de sociologia política e cumprimentou-o afetuosamente. Guerreiro, também afetuosamente, retribuiu o cumprimento e, na conversa que se seguiu, disse ao primeiro presidente do regime militar não entender a razão de sua cassação, pois se a direita o rotulava de comunista por ter ajudado a criar o ISEB, centro do pensamento de esquerda nos anos cinqüenta (Carlos Lacerda o chamava de sociólogo de Alzira Vargas), a esquerda também o detestava. Afinal, ele rompera com o mesmo ISEB e vivia às turras com o sindicalismo populista de João Goulart. Castello ouviu em silêncio.
Dias depois, Guerreiro ouve a campainha de seu apartamento soar. “Atendi à porta e vejo um senhor com roupas civis mas empertigado:
- “Professor Guerreiro Ramos?”
- “Sim”, respondi sobressaltado”.
- “Sou coronel do Conselho de Segurança e estou aqui em uma missão que me foi confiada pessoalmente pelo presidente Castello Branco”.
“O coronel entra e lhe explica que vai mostrar sua ficha nos órgãos de segurança, desde que ele se comprometesse a absoluto sigilo sobre sua visita. “Concordei com a condição e o coronel me estende uma ficha de cartolina. Trêmulo de emoção, pego-a” - continua teatralmente Guerreiro – “e acho estranho que haja apenas uma linha datilografada, muito pouco para alguém com a minha militância intelectual e política. Leio:
- “Ramos, ponto. Alberto Guerreiro vírgula, baiano vírgula, mulato vírgula, metido a sociólogo ponto”.
“Olhando para nós com um ar zombeteiro, Guerreiro dá uma gargalhada: - “Eu citado por Protikin Sorokim como um dos maiores sociólogos contemporâneos em todo o mundo, eu que tive artigos publicados nas melhores revistas internacionais de sociologia, sou reduzido à condição de um mulatinho baiano metido a sociólogo!”

Um comentário:

Thiago Quintella de Mattos disse...

São as revelações amiúde da estupidez daquele período.

Busca