quinta-feira, 15 de outubro de 2015

MAIS ELEMENTOS SOBRE A CRISE GERAL DO CAPITALISMO

Tony Ferreira está sempre bem antenado para os grandes problemas de nosso tempo, Este sintético texto mostra claramente esta qualidade: Estamos numa fase muito avançada da crise geral do capital e, portanto, de transição para uma civilização planetária que deve ser conduzida na direção de umas novas formações sociais em direção ao socialismo. A luta do capital para sobreviver é cada vez mais cruel e violenta. 
Segue o texto de Tony Ferreira

"Que diferença existe entre os barcos de imigrantes daLíbia agora e os navios negreiros que indignaram Castro Alves?" (Zuenir Ventura. "O Globo").

           A diferença, meu cândido e caro sr. Zuenir, é que, aos navios negreiros -que alimentavam com sua carga uma economia capitalista predominantemente agrária e escravista-, o próprio capitalismo tinha uma alternativa melhor e mais humana, que era, e foi, a economia capitalista predominantemente industrial e assalariadora.

           Já hoje, os barcos de emigrantes da Líbia, apesar de também transportarem predominantemente negros, refletem outra coisa. Refletem a miséria existente no III Mundo, particularmente na África, resultante do esgotamento do sistema capitalista, que já atingiu, planetariamente, sua última configuração, na qual só há lugar bom para, no máximo, 20% das pessoas que vivem sob esta formação econômico-social ; que já atingiu, praticamente, CONFORME TODAS  AS ESTATÍSTICAS MOSTRAM, o grau máximo de concentração da renda (o que, DENTRO DO CAPITALISMO, É IRREVERSÍVEL) ; que já não possui alternativas a oferecer, a não ser empurrar esses barcos de volta e manter-se vivo às custas de bilionárias e violentas intervenções militares, sabotadoras e golpistas no III Mundo -onde vive hoje o proletariado mundial-, lideradas pelos EUA, via CIA e/ou OTAN, de modo a manter a brutal espoliação e o grande domínio -vitais para sua manutenção, repito- exercidos pelo I Mundo sobre ele.

           Conforme, corretamente, escreveu o desembargador do TJ e membro da Associação Juízes para a Democracia, Siro Darlan, em "O Dia", de 16.09.15 : "O que se vê agora na Europa é uma reação tardia à violência sofrida secularmente pelos que se julgam os donos do mundo, que derrubaram os governos constituídos do Iraque, Síria e Líbia, produzindo guerras que atendiam aos seus interesses econômicos com falsas justificativas. Agora a Europa está sendo invadida por suas vítimas que chegam às suas fronteiras, desembarcam vivos ou mortos em suas praias, invadem seus trens e escalam suas montanhas, enfrentando a violência de uma polícia que tenta, sem sucesso, fechar as fronteiras com jatos de água, cassetetes e gás lacrimogêneo.". Exatamente o também apontado por um  dos mais aclamados fotógrafos da atualidade, o brasileiro Sebastião Salgado. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em 4/10/15, Salgado fez uma análise da atual crise de refugiados e atribuiu o problema às intervenções militares dos Estados Unidos e de países da Europa. "Quando eu conheci o Iraque, era um país rico, onde as pessoas trabalhavam, tinham aposentadoria, residências e viviam em paz. Um país (Estados Unidos) atacou o lugar e o trouxe para a idade da pedra. No Iraque hoje ninguém tem casa, bomba explode todos os dias, é um país fisicamente destruído. Para onde você quer que esse povo vá?”, questionou.

           É, sr. Zuenir, como já preconizava Rosa Luxemburgo, há mais de um século (em uma frase que ficou famosa :"Socialismo, ou barbárie."), a situação atual, toda ela parida pelo já ultrapassado e crescentemente deletério capitalismo, e sem saída dentro deste, é de tal gravidade, que o último livro do mundialmente renomado astrofísico britânico Martin Rees, ex-presidente da Royal Society entre 2005 e 2010, foi intitulado, significativamente, como "Nosso Último Século", e questiona se será possível à espécie humana sobreviver a este próprio século em que estamos vivendo, ao século 21 ! Posição, esta, ratificada, atualmente, por vários cientistas e pesquisadores, entre eles, por exemplo, o húngaro István Mészáros, professor emérito da Universidade de Sussex, na Inglaterra:"A persistir o capitalismo, o destino da humanidade será a sua autodestruição através das guerras e da crise ecológica. A alternativa socialista não é apenas possível, mas necessária para a sobrevivência da humanidade." ("A montanha que devemos conquistar"). E até mesmo pelo Papa Francisco : "Reconhecemos nós que o capitalismo impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza ? Se é assim – insisto – digamo-lo sem medo : Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Esse sistema capitalista é insuportável : não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos.... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco. Quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum. Não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura sutil : vós conhecei-los !" (Discurso pronunciado na Bolívia, em 09.07.2015. Rádio Vaticano, 10.07.15.)

            Sério mas simples, né, "seu" Zuenir ? Ou a humanidade dá cabo do capitalismo, ou ele terminará acabando com ela.


                  Tony


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